Terça-feira, 20.04.10

O Fascínio pelo Assassino #12

 

Voltamos à ficção para chegarmos a Jean-Baptiste Grenouille, a personagem principal do best-seller "O Perfume", de Patrick Süskind. Uma personagem estranha, nascida no meio de tripas de peixe, sobrando-lhe em capacidade olfactiva aquilo que lhe faltava em odor próprio.

Aprendiz de perfumista, nele nasce o sonho de criar o perfume perfeito, cuja lista de ingredientes incluía essência de mulher virgem. 25 mulheres, são assassinadas, permitindo criar o perfume que o salva, primeiro, da execução e mais tarde lhe provocam a morte, por desmembramento e canibalismo.

 

É na personagem d'"O Perfume" que Kurt Cobain baseia o segundo tema do disco "In Utero", Scentless Apprentice.

 

Scentless Apprentice - Nirvana

"In Utero" (1993)

publicado por Olavo Lüpia às 14:50 | link do post | comentar
Quinta-feira, 25.02.10

O Fascínio pelo Assassino #11 - Charles Manson

 

Charles Manson não precisa, infelizmente, de grandes introduções.

A 'família' que liderava, na Califórnia, ficou conhecida, entre outros, pelo assassinato de Sharon Tate (na altura, mulher do realizador Roman Polanski). 

 

Neil Young, em 1974, faz um retrato interior violento, do ponto de vista de Manson, do sentimento que uniria aquela 'comuna familiar', em Revolution Blues.

 

Revolution Blues - Neil Young

"On The Beach" (1974)

 

Notamos outra referência a Manson no mundo do rock, no fim de "Bad Moon Rising" dos Sonic Youth, numa colaboração com Lydia Lunch.

 

Death Valley '69 - Sonic Youth (com Lydia Lunch)

"Bad Moon Rising" (1985)

 

Um ano depois, os Flaming Lips (que têm registada uma versão live da Death Valley '69 dos SY, na compilação ao vivo "Finally Punk Rockers Are Taking Acid", de 2002) apresentam o seu disco de estreia, onde figura Charlie Manson Blues.

 

Charlie Manson Blues - The Flaming Lips

"Here It Is" (1986)

 

Charles Manson não ficou só pela face passiva da moeda musical. Teve também uns breves e irrelevantes fogachos musicais.

No plano da justiça, depois de ser condenado à morte em 1971, viu a pena ser comutada para prisão perpétua (pela abolição temporária da pena de morte no estado da Califórnia, em 1972 - depois reintroduzida). Tem sido recusada a sua libertação condicional, que será reavaliada outra vez dentro de dois anos.

publicado por Olavo Lüpia às 02:00 | link do post | comentar
Quinta-feira, 10.12.09

O Fascínio pelo Assassino #10 - Hey Joe

Hey Joe é um tema celebrizado pela interpretação de 1966 da Jimi Hendrix Experience, contando a história de um crime passional - porque é que nunca se deu este caso prático nas faculdades de Direito portuguesas para se estudar a problemática 'homicídio qualificado vs homicídio privilegiado' é mais uma das coisas que nunca vou conseguir entender.

Estruturalmente, diga-se que a música é um bom suporte para a letra, tendo a sua progressão de acordes ascendente o dom de propulsionar o efeito dramático crescente da história, que começa pela intenção de matar, ao que se lhe segue o crime e a posterior fuga para o México para evitar o castigo.
 
A verdadeira autoria de Hey Joe é um tema bastante complexo, sendo que a 'doutrina' divide-se entre se tratar de uma música do folclore dos Estados Unidos ou uma música composta por Billy Roberts (em 1962, a partir de uma melodia tradicional), que registou os direitos de composição em seu nome.

A música foi passando 'de guitarra em boca' e vice-versa, tornando-se uma música recorrente no repertório do rock de garagem da Califórnia. A mais conhecida é a versão dos The Leaves. Perdão, três versões dos The Leaves, a primeira em 1965 (com o título Hey Joe Where You Gonna Go?) e as restantes em 1966 (já apodada de Hey Joe). Em baixo fica uma delas.

Hey Joe - The Leaves

Hendrix ouviu-a e, da mesma forma como faria com All Along The Watchtower de Dylan, tornou-a sua e definitiva, gravando-a em single em 1966 e fazendo-a constar do disco de estreia da sua Experience, "Are You Experienced?", do mesmo ano.

Hey Joe - The Jimi Hendrix Experience

Após a gravação de Hendrix, muita gente fez-lhe o mesmo, de Cher aos Body Count, passando pelos Byrds, Tim Rose, os Deep Purple 'and so on, back and forth'.

Frank Zappa optou por um caminho diferente e, em Punk Flower, do seu disco de 1968 "We're Only In It For The Money", toma-lhe o mote e o formato pergunta-resposta para brincar com o movimento floral dos 60's: «Hey, Punk, where are you goin' with that flower in your hand?/I'm goin' down to Frisco to join a psychadelic band...»

Flower Punk - Frank Zappa & The Mothers Of Invention

De todas as versões da canção, registe-se a versão de Patti Smith. Em 1974, Hey Joe foi o seu primeiro e óptimo single.

Hey Joe - Patti Smith
publicado por Olavo Lüpia às 01:55 | link do post | comentar | feedbacks (1)
Segunda-feira, 05.10.09

O Fascínio pelo Assassino #9 - Brenda Ann Spencer/Blue Mondays...

No dia 29 de Janeiro de 1979, Brenda Ann Spencer, na altura com 16 anos, matou o Director e um segurança da sua escola, a Cleveland Elementary School, em San Diego, California, ferindo ainda alguns dos seus colegas alunos.

Os crimes foram cometidos a partir de casa, que se situava à frente da escola, com uma carabina que lhe tinha sido oferecida como prenda de Natal pelo seu pai. Brenda referiu ter sido 'muito divertido', como 'atirar aos patos num lago' e que os seus colegas pareciam 'manadas de vacas' que ali se encontravam paradas, portanto, 'alvos muito fáceis'.
Quando perguntada do porquê, Brenda respondeu 'I don't like Mondays. This livens up the day'.
 

 


I Don't Like Mondays, The Boomtown Rats
"The Fine Art of Surfacing" (1979)

Brenda Ann Spencer foi condenada numa pena de prisão de 25 anos a perpétua. Já foi a 4 audiências para aferir da possibilidade de ser colocada em liberdade condicional - a última deles no último 13 de Agosto - tendo sido sempre rejeitada essa possibilidade.
publicado por Olavo Lüpia às 15:45 | link do post | comentar
Quarta-feira, 25.02.09

O fascínio pelo assassino # 8 - Down By The River


Down By The River - Neil Young com os Crazy Horse
"Everybody Knows This Is Nowhere" (1969)

publicado por Olavo Lüpia às 07:00 | link do post | comentar
Terça-feira, 27.01.09

O fascínio pelo assassino # 7 - Murder in the Red Barn


Hoje temos a morte de Maria Marten, em 1827, pelo seu amante William Corder. Ambos haviam combinado um encontro no celeiro vermelho, em Suffolk, Inglaterra, antes de darem azo a uma previamente planeada fuga. Nunca mais se soube de Maria...

Murder in the Red Barn - Tom Waits
"Bone Machine" (1992)

(a partir deste post do Coisas do arco da velha)
publicado por Olavo Lüpia às 04:00 | link do post | comentar
Quinta-feira, 18.12.08

O fascínio pelo assassino # 6 - Country Death Song


O ainda adolescente impressionável Gordon Gano (na sua versão 10.º ano de escolaridade) escreveu uma canção tendo por base uma notícia de 1862 sobre um homem que empurrou a filha para um poço, causando-lhe a morte, ao que se seguiu uma pequena viagem até ao seu celeiro para uma curta e definitiva querela entre a sua traqueia (a do homem, não a do querido cliente deste tasco que está a ler isto) e um nó de uma corda suspensa. A canção abre o segundo disco dos Violent Femmes, "Hallowed Ground".

Country Death Song - Violent Femmes
"Hallowed Ground" (1984)
publicado por Olavo Lüpia às 07:00 | link do post | comentar | feedbacks (1)
Quarta-feira, 10.09.08

O fascínio pelo assassino # 5 - Pretty Polly/Ballad of Hollis Brown

Pretty Polly é uma música tradicional encontrada no folclore britânico assim como na região Apalache dos Estados Unidos. Parece ter nascido como uma derivação encurtada da canção The Gosport Tragedy.
Em poucas palavras, trata-se da história da jovem e bela Polly, atraída para a floresta por um seu pretendente (Willy, que noutras versões usa outro dos diminutivos de William, Billy), que acaba por matá-la e enterrá-la numa cova que havia cavado na noite anterior.
Sendo uma música do folclore tradicional, desde logo se adivinha como há muitas versões da mesma música. Aqui ficam duas, curiosamente do mesmo ano, por Dock Boggs (na foto acima) e B. F. Shelton. Em ambas, a voz é acompanhada apenas pelo banjo.

Pretty Polly - Dock Boggs (1927)
Pretty Polly - B. F. Shelton (1927)

De entre outra gente que também cantou Pretty Polly, refira-se, desde já, os nomes de Bert Jansch, Judy Collins, Kristin Hersh ou os Byrds.

Pretty Polly - The Byrds
"Sweetheart Of The Rodeo" (1968)

Em 1964, Bob Dylan (o Dylan recolector) agarra na estrutura musical e frásica de Pretty Polly - que, segundo se diz, também tocou - para compor a negríssima Ballad of Hollis Brown, a história de um agricultor de South Dakota que, vivendo na penúria com a sua família, vê a farinha e a água faltar, os 5 filhos famintos e em lágrimas e a sua mulher aos brados, decide gastar os seus últimos tostões em sete projécteis de caçadeira, nem sendo preciso adivinhar o fim do conto.

Ballad of Hollis Brown - Bob Dylan
"The Times They Are A-Changin'" (1964)


[O cantor country TJ McFarland, na sua música Kurt Cobain, refere que o líder dos Nirvana, antes da fama, tocava a música Pretty Polly. Isto talvez se conjugue para quem ache que a música Polly pode ter sido influenciada por aquela. No entanto, não sei... a) quem é este TJ McFarland nem como ele terá conhecido Cobain; b) como é que a música acima mencionada tem a ver com a que relata a história verídica de uma rapariga de 14 anos raptada e violada, pela visão do agressor. De qualquer forma, e para completar, aqui ficam:

Kurt Cobain - TJ McFarland
"Howlin' Wild" (2007)
Polly - Nirvana
"Nevermind" (1991)]
publicado por Olavo Lüpia às 05:00 | link do post | comentar
Quinta-feira, 04.09.08

O fascínio pelo assassino # 4


Depois de Lee Shelton, Mackie Messer e Charles Starkweather (link abaixo), fazemos uma pausa no tratamento nominado dos 'assassinos', reais ou ficcionais, como ponto de partida para se chegar às músicas.
Annie Clark (St. Vincent) propõe-nos uma abordagem diferente: entrar no cerebelo do homicida através de pequenos 'flashes' mentais. Achegar-se à temática pelo interior, pela obsessão: «Your Lips Are Red»...

Your Lips Are Red - St. Vincent
"Marry Me" (2007)

[O fascínio pelo assassino]
publicado por Olavo Lüpia às 03:55 | link do post | comentar | feedbacks (1)
Sábado, 28.06.08

O fascínio pelo assassino #3 - Charles Starkweather


Charles Starkweather era, fisicamente, qualquer coisa parecida com o cruzamento improvável entre Leonardo DiCaprio, James Dean (por quem o rapaz desenvolveu uma obsessão, vestindo-se e penteando-se como o actor) e uma conduta de ar quente. É um dos mais conhecidos spree killers, nome que os americanos dão a quem, numa mesma mesma resolução criminosa ou série de eventos temporalmente ligados, assassina uma pluralidade de pessoas.
No caso de Starkweather, foram onze vítimas numa road trip com a sua namorada Caril Ann Fugate, pelos Estados do Nebraska e do Wyoming, entre Dezembro de '57 e Janeiro de '58, tinha o rapaz acabado de fazer 19 anos. Caril Ann tinha 14. Entre as 11 vítimas contam-se a mãe, o padrasto e a meia-irmã de Caril Ann.
Nascido em 24.11.1938 na capital do Nebraska, Lincoln, e morreu aos 20 anos, através de uma descarga de umas dezenas de milhares de volts.
A sua história inspirou realizadores e músicas. Muitos filmes foram feitos com base na história de Starkweather, como "Badlands" (1973, Terrence Mallick). É baseado na história de Charles e Caril Ann, filtrada pela visão de Mallick, que Bruce Springsteen escreve a música que inicia e dá o título ao disco "Nebraska" (1982).

Nebraska - Bruce Springsteen
"Nebraska" (1982)
publicado por Olavo Lüpia às 15:10 | link do post | comentar
Domingo, 15.06.08

O fascínio pelo assassino #2 (Mackie Messer/Mack, The Knife)/Domingo no Mundo

Die Moritat von Mackie Messer - Lotte Lenya ("Jenny")
de "A Ópera dos Três Vinténs" (1928), de Kurt Weil e Bertolt Brecht.


Mack The Knife, Louis Armstrong
ao vivo em Stuttgart (1959)

[O instrumental de Weil e Brecht foi ainda usado por Chico Buarque na composição d'"A Ópera do Malandro", em O Malandro.

O Malandro (Die Moritat von Mackie Messer) - Chico Buarque
"A Ópera do Malandro" (1979)]
publicado por Olavo Lüpia às 16:54 | link do post | comentar
Terça-feira, 27.05.08

O fascínio pelo assassino #1 - Lee Shelton

«William Lyons, 25, colored, a levee hand, living at 1410 Morgan Street, was shot in the abdomen yesterday evening at 10 o'clock in the saloon of Bill Curtis, at Eleventh and Morgan Streets, by Lee Sheldon, also colored.»
"Saint Louis Globe Democrat"
December 28, 1895 [fonte]
 

 

Lee Shelton é um nome que talvez dirá pouco a muita gente. Vamos, então, à sua alcunha e variações: Stack Lee, Stackalee, Stackerlee, Stagolee, Stagger Lee, Stack O'Lee, etc...
Numa conversa que Lee Shelton - que acumulava as ocupações de taxista e chulo - mantinha com o amigo Billy Lyons, os ânimos escalaram quando se conversava sobre política, tendo a contenda acabado com Billy a suplicar pela vida à arma que "Stagger" Lee empunhava. Terá sido mesmo a última coisa que viu, enquanto Lee foi para a prisão, onde morreu, em 1912, vítima de tuberculose.
A história acaba por ser transmitida pelo folclore oral das margens do Mississippi, crescendo, ponto por conto, até que Mississippi John Hurt a grava, há 80 anos atras, com o nome Stack O'Lee Blues:


Stack O'Lee Blues - Mississippi John Hurt
(1928)

30 anos depois, foi contada mais uma versão da história, Stagger Lee, por Lloyd Price, em regime rock & roll.

Stagger Lee - Lloyd Price
(1958)

Depois disso, muitas versões da música e da história foram cantadas, por gente como Bob Dylan, Bill Haley & His Comets, Dr. John, Woody Guthrie, Ike & Tina Turner, entre muitos outros - podem ouvir algumas delas aqui.

Para o disco "London Calling", os The Clash decidiram contar a história de uma maneira completamente antónima à versão consensual: Stagger Lee passava para o lado dos "bons", enquanto Billy era o "bad guy", em Wrong'Em Boyo:

Wrong'Em Boyo - The Clash
"London Calling" (1979)

Para melhor se verificar como pode uma história se transformar noutra muito diferente, e para quem for fã do gore nos mais tradicionais tons de vermelho-sangue e negro, vale sempre a pena não esquecer a excelente Stagger Lee com que Nick Cave & The Bad Seeds nos brindam no disco que pode, ou não, servir de inspiração à série de posts que agora se inicia, "Murder Ballads".


Stagger Lee, Nick Cave & The Bad Seeds
"Murder Ballads" (1996)
publicado por Olavo Lüpia às 07:00 | link do post | comentar | feedbacks (2)

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