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Confortáveis?
Ok.
Por esta altura, se tudo correu bem, devem estar a ouvir a voz de
Robert Plant («
Hey-ey mama, is that the way you move? Gonna make you sweat, gonna make you groove») logo seguida pelo riff imortal de
Jimmy Page... and so, we're on the same page.
Comecemos.
Quando pensei em Led Zeppelin para estes
10/10, parti de dois presupostos:
a) Quase todos os discos de Led Zeppelin são clássicos que podiam caber nesta categoria (do "I" ao "IV", "Houses Of The Holy" e "Physical Graffiti"); e
b) Acontecesse ou que acontecesse, tentaria fugir à escolha do "IV", por razões óbvias...
Só que, quando fui relembrar as músicas de cada um dos álbuns dos Zepp, dei de caras com a "constituição de equipa" (perdoem-me o
futebolês) do disco aqui em questão...
1.
Black Dog2.
Rock And Roll3.
The Battle of Evermore4.
Stairway to Heaven5.
Misty Mountain Hop6.
Four Sticks7.
Going To California8.
When The Levee BreaksPois é...
Podia ser um "best of" do quarteto! As primeiras cinco músicas, pelo menos, são autênticos clássicos incontornáveis do rock.
Para se entender melhor como surge este álbum, convém relembrar os antecessores - é nesta altura que os menos pacientes podem apagar a luz(!)... mas não a música, que (se tudo continuar a correr bem) deve estar a ouvir-se ao fundo.
"I" (1969) é a génese do som rock dos Zepp. Nele podemos encontrar as bases de onde partiu a banda, com os blues (
You Shook Me ou
I Can't Quit You Baby) e folk (
Babe I'm Gonna Leave You e
Black Mountain Side) tradicionais, até se chegar à "invenção" do hard rock (
Good Times Bad Times) e do heavy metal (
Communication Breakdown) - que não acabou assim tão bem... e não estou a falar de cabelos! Lá pelo meio, o monumento
Dazed and Confused abria belas perspectivas sobre o rock que viria a seguir.
"II" (1969) corresponde à maturação do som rock baseado nos riffs lapidares da guitarra de
Page, ora sexys, ora dramáticos - sempre
larger than life -, a voz potente de
Plant (pelo menos, até 1975/76...), o baixo activo de
John Paul Jones e a mescla explosiva técnica/força/inteligência do baterista
John Bonham. Prova de tudo isto pode ser ouvida em
Whole Lotta Love,
The Lemon Song,
Heartbraker (com aquele solo de guitarra - mas mesmo solo, sem acompanhmento - que vem nos livros)... e as outras, já agora!
"III" (1970) pode ser dividido em dois. Uma primeira parte, com o aprofundamento do som rock e heavy blues do anterior (
Immigrant Song,
Celebration Day,
Out On The Tiles); a segunda, com uma exploração excelente e inovadora do material mais acústico, do folk britânico de
Bron-Y-Aur Stomp,
Gallows Pole ou
Tangerine, até os blues de
Hats Off to (Roy) Harper. O crescimento da banda estava assegurado.
Uma referência apenas para o blues apoteótico, que rasga a alma, de
Since I've Been Loving You. A voz
"pesarosa" de Plant, a guitarra inspirada de Page, o baixo e a bateria a funcionarem como metrónomo perfeito, os arranjos, as orquestrações... tudo nesta música é de antologia.
E assim chegamos ao "IV", o ponto de equilíbrio perfeito dos dois mundos dos Led Zeppelin. O pesado
Rock and Roll da música de igual nome ou de
Black Dog, um pouco mais funky em
Misty Mountain Hop, "tripante" em
Four Sticks (chamada assim porque Bonham usava 4 baquetas - duas em cada mão - para a tocar), em contraponto com o mais tradicional folk de
The Battle of Evermore ou
Going To California e o Blues de
When The Levee Breaks. A síntese da dialéctica de tudo isto é fornecida a meio, pela intemporal
Stairway To Heaven.
Tentem obliterar o mediatismo que a desgastou e esquecer as parvoíces das
mensagens subliminares. É um
opus impressionante. Uma das melhores músicas de sempre. Quem, ao aprender a tocar guitarra não sentia o dever de saber tocar aquela introdução - facto que foi alvo de paródia no Wayne's World?!
Um
factóide para terminar: uma rádio californiana (salvo erro) escolheu-a como melhor música dos anos 70 e passou-a, repetidamente, das 0.00h às 8.00h do dia 01.01.1980 (ora, isto faz-me evocar aquele pensamento do Woody Allen, segundo o qual, acordar ao som do lindo canto de um pássaro é uma sensação excelente; se ele continuar a cantar por muito tempo pode dar-nos uma irritante dorzinha de cabeça; se ele cantar interminavelmente, dá vontade de lhe espetar com uma meia pela goela abaixo)...
Deixo aqui umas versões
live, em formato vídeo, de algumas canções deste "IV":