Passam já dez anos sobre aquela que é, talvez, a melhor obra prima musical dos últimos 30 anos. Um disco que marca uma geração de músicos e melómanos, com música intemporal, superiormente escrita e arranjada e com a produção insuperável do então desconhecido
Nigel Godrich, que havia assistido
John Leckie na produção de "The Bends" (1995), e da própria banda.
O disco pode ser visto como «O definitivo guia para a sobrevivência nas sociedades modernas ocidentais», com foco especial na pressão e alienação do ser humano, causada por uma evolução social e tecnológica, que processou informação excessiva em relação ao que o Homem consegue assimilar. A mecanização e automatização das acções humanas - já não resultado da vontade consciente da pessoa - vai sendo explorada ao longo do disco (como exemplos,
Paranoid Android, Let Down,
No Surprises e, por todas,
Fitter Happier).
O disco começa com
Airbag. A batida de
Phil Selway e o riff de guitarra de
Jonny Greenwood constroem a rede de sustentação para uma música que apresenta uma estrutura convencional de canção, estrofe/refrão. No entanto, todo o trabalho de guitarras e percussão que vai acontecendo em pano de fundo, como que uma parede sonora, é absolutamente impressionante, até que tudo se caotiza mais para o final, com o
noise das guitarras e dos mais variados instrumentos de percussão utilizados e sons computorizados.
AirbagA seguir, chega o primeiro
single de apresentação de "OK Computer",
Paranoid Android. 3 músicas comprimidas e juntas numa, o que originou algumas comparações com
Bohemian Rhapsody, dos
Queen.
Musicalmente, é uma espécie de junção entre uns
Pink Floyd dos anos 70 e uns
Radiohead de "The Bends"; liricamente, é inspirada na personagem
Marvin, o boneco que podem ver na barra lateral direita (na versão cinematográfica de 2005), de "The Hitchiker's Guide to the Galaxy", do escritor britânico
Douglas Adams.
Não há muito a dizer mais sobre esta música, para além de que a considero a melhor música dos anos 90 e uma das melhores e mais inovadoras musicas de sempre. Tudo está pensado e executado ao milímetro. Os riffs das guitarras que vão dando os diferentes motes às sub-músicas são muito inteligentes, todos os sons que ouvem estão pensados ao milímetro e têm que escutar a músicas umas boas dezenas de vezes até os conhecerem todos. Desde a bateria clínica de
Phil Selway, passando pela excelente linha de baixo de
Colin Greenwood, os solos esfuziantes de
Jonny Greenwood, o preenchimento de som por
Ed O'Brien até à frágil e lindíssima voz de
Yorke... está tudo lá.
Ainda sobre esta música, impossível esquecer o seu assombroso vídeo, realizado por
Magnus Carlsson, responsável pela série animada "Robin", cujas personagens são "estrelas" do vídeo.
Subterranean Homesick Alien é uma música cujo título é inspirado na música
Subterranean Homesick Blues, de
Bob Dylan.
Sobre esta música, o guitarrista Jonny Greenwood explica que tentou recriar o ambiente de "Bitches Brew" - disco de 1970 de
Miles Davis. O som, misterioso e futurista, serve a canção na perfeição, na sua história sobre um rapto alienígena.
Subterranean Homesick AlienExit Music (For A Film) aparece pela primeira vez, no final do filme "Romeo + Juliet" (1996), de
Baz Luhrman, ainda que não tivesse feito parte da banda sonora original, a pedido de Thom Yorke. A música é inspirada, segundo o próprio Yorke, no exacto momento da narrativa em que Julieta aponta a arma à sua cabeça, vendo Romeu morto.
É outro verdadeiro monumento. Conduzida pela guitarra acústica de Yorke, naquela que podia ser uma balada folk ao estilo de um
The Day Is Done de
Nick Drake - a sequência de acordes iniciais é a mesma! -, as camadas de som que são colocadas na música dão-lhe uma tonalidade lúgubre. Temos
samples de sons que parecem ser de crianças a brincar, coros de vozes sintetizados, até que a bateria e um baixo em pesada distorção entram na música, no seu climax apoteótico.
Exit Music (For A Film)Depois, uma das minhas favoritas do disco e uma das mais melancólicas,
Let Down, que esteve para ser o primeiro single do disco.
O
riff da guitarra de Greenwood, tocado num compasso diferente do tradicional 4/4 em que estão os restantes instrumentos, é a primeira coisa a ouvir-se. Uma música pop perfeita, com as harmonias vocais de Yorke em plano de evidência, até ao seu final em forma de
loop electrónico.
Let DownKarma Police dispensa qualquer tipo de apresentação. É o segundo single de "OK Computer" e aquele que acabaria por focar as atenções do público em geral sobre o disco.
O som estridente final sai da imaginação do guitarrista Ed O'Brien, através da saturação de sons introduzidos num aparelho de delay digital.
O vídeo é realizado por
Jonathan Glazer. Excelente, como já lhe é costume.
(
continua)