Visitas de Estudo - Portishead no Porto

Ora, aqui está um caso estranho.
As reacções vão sendo díspares, entre a adesão semi-completa e a semi-frustração. Primeiro consenso, trata-se de um "semi".
Era um concerto que tinha tudo para dar certo, entre a nostalgia e a excitação. O primeiro problema tem de se colocar ao nível da organização. Um concerto de uma banda num registo intimista deve ser feito para gente sentada. Quanta gente achava que ia dançar ou fazer "mosh" a ouvir os de Bristol? Daí vem o segundo problema. Parece ser disparatado dizer que os Portishead não são os Xutos, mas a verdade é que o concerto começa e só muda a banda sonora. Gritos histéricos no fim de cada refrão de Glory Box parece parvoíce, palmas a compasso numa versão guitarra-baixo-voz de Wandering Star não parece bem e soam a absoluto desnexo quando batidas para acompanhar frases como «Can't anybody see/We've got a war to fight/Love will find our way/Regardless of what they say/How can it feel this wrong?(...)». E as 3.757 geringonças que foram filmando o início e as músicas mais conhecidas dos de Bristol? Foi o que aconteceu. Uma patetice.
Terceiro problema: primeiro concerto da digressão. A setlist estava equilibrada, mas com possibilidades de melhoramentos e a banda, em especial Beth Gibbons, deu a ideia de estar demasiado compenetrada no material novo. Daí que os clássicos fossem aparecendo a separar os temas de "Third" e talvez isso mesmo explique o facto de Gibbons ter-se enganado em alguns dos "clássicos" - desafinação em Sour Times (e aquele feedback impressionante do retorno de Gibbons...), repetição da letra em Cowboys, entradas fora do tempo em Glory Box (este a meias com Adrian Utley).
Parece então que o concerto foi terrível, não é? Mas não foi.

A coisa começou muito bem com Silence e Hunter, os dois primeiros temas de "Third", ao que se seguiu Mysterons. Perfeito. Depois veio, se a memória não falha, The Rip (que arrefeceu um pouco o ambiente da sala), ao que se lhe seguiu Glory Box e Numb. Depois uma tripla imbatível: Magic Doors, Wandering Star (um dos melhores momentos da noite, numa versão sem batida e com a substituição da melodia final do moog pela voz de Gibbons) e Machine Gun.
Até ao final do set ainda se ouviu Over, Sour Times, Only You, Nylon Smile e Cowboys (talvez não por esta ordem), que terminou com um quase inaudível (pela força dos aplausos) pedido de desculpas de Gibbons.
O encore foi demolidor: Threads pôs o Coliseu em sentido, em especial quando Gibbons a terminou em sonoro desespero, seguido desse pedaço de mitologia urbana que dá pelo nome de Roads e, para acabar, a hipnose de We Carry On, com Gibbons algures no início da plateia.
Terá faltado All Mine, Half Day Closing ou Strangers? É um "talvez" irrelevante, até porque estas músicas perdem muito sem os sopros e/ou as cordas.
Concluindo, foi um bom concerto que podia ter sido um enorme concerto, com culpas divididas entre a organização, o público e a própria banda. Uma óptima máquina a precisar de rodagem...
Talvez já hoje Lisboa veja uns Portishead e público melhores.

[Eu já vos tinha dito que o Geoff Barrow é uma máquina?! Impressionante!]


Strangers, Portishead
"Roseland NYC Live" (1998)

[E, antes que esqueça, obrigado, Joe, pelo bilhetinho mágico. És um compincha, "sócio"!]
publicado por Olavo Lüpia às 14:26 | link do post | comentar