Começa a ser assustadora a média de idades de alguns dos meus preferidos. Já descubro muitos deles sexagenários (quando não em decomposição...). É o caso de Lou Reed, que hoje completa a capicua dos seis. Parabéns, então, Prof. Doutor Reed!
«This album was recorded and mixed at Media Sound, Studio B, N.Y.C., in essentially the order you have here. It's meant to be listened to in one 58 minute (14 songs!) sitting as though it were a book or a movie» - Lou Reed.
Sempre ligado à sua cidade, só no final dos anos 80 é que Lou Reed dedica um disco a New York. 14 histórias e fábulas urbanas.
Numa visita a uma grande superfície comercial ali para os lados do Porto, o meu irmão mostrava-me a sua última conquista: «Este é o Lou Reed...», disse-me enquanto me mostrava o vinil do "New York". Eu tinha 12 ou 13 anos e não percebi nada do que ele me estava a dizer. O pouco inglês que eu sabia tinha-me sido ensinado pelos filmes, pelo Bruce Springsteen e pelo Bob Dylan. Não o sabia, mas estava a dias de juntar o Lou Reed à lista de "professores". O que eu não atingi foi que um disco como "New York" (com as histórias imbricadas, o sarcasmo e a "bílis na língua" típicos de Lou Reed) é imperceptível para um puto de 12 ou 13 anos que havia nascido, vivia e crescia numa pequena terra do Norte de Portugal.
O som é cru. Temos duas guitarras, um baixo e uma bateria - ponto. Não abundam arranjos musicais fascinantes, só o velho mote de Dylan «...a red guitar, three chords and the truth» - pelo menos, a verdade de Lou Reed.
"The Raven" (2003) surge a partir de uma colaboração entre Lou Reed e o encenador Bob Wilson que deu lugar a um musical, a partir da literatura e imaginário de Edgar Allan Poe. É daqui que sai esta versão do clássico Perfect Day, cantada por Antony Hagerty (o dos Johnsons, mas aqui sem eles).
Todas estas canções pertencem ao excelente disco "Songs For Drella" (1990), inteiramente dedicado a Andy Warhol - quase uma narrativa sobre a vida de Warhol.